AMAMENTAR É UM ATO DE AMOR – DAR FÓRMULA TAMBÉM
É esse tipo de imagem que vemos por tudo que é lado nessa semana mundial do aleitamento materno.
Os benefícios do leite materno são indiscutíveis. E é compreensível também que a campanha das Nações Unidas em prol da amamentação tem uma enorme importância, para que os produtores de fórmula não tenham livre acesso à dominação dos mercados de países menos desenvolvidos onde as mulheres têm menos acesso a informação e esclarecimento. Apoio também as iniciativas que focam no aumento do número de bebês brasileiros que recebem leite materno.
O problema que eu vejo é que junto ao bombardeio com as imagens acima, vem o julgamento implícito de quem não amamenta – pelos mais variados motivos. Em uma decisão essencialmente íntima e pessoal, as mães sofrem uma enorme pressão externa.
E esse fenômeno não é nada novo. Johanna Haarerin escreveu no seu livro “A mãe alemã e seu primeiro filho”, publicado na Alemanha em 1934:
“Mãe, só se você amamentar o seu filho você cumpre o seu dever”.
Já na Alemanha dos anos 60, chamava-se uma boa mãe quem dava leite artificial – uma novidade no mercado – para o seu bebê e voltava logo ao emprego em tempo integral. Substituiu-se uma doutrina pela outra.
E seja qual for a ideologia dominante no momento, as mulheres têm que lidar com essa intromissão através de normas definidas pela sociedade. E pior – elas julgam uma a outra mais uma vez! Como se tivesse só os dois extremos: amamentar como ato do mais puro amor materno e a opção da fórmula como ato irresponsável e egoísta.
E outra. A grande maioria das gestantes hoje em dia tem vontade de amamentar. O fato que somente 39% dos bebês brasileiros receberem leite materno exclusivamente até os 5 meses de idade, não deve ter sua origem somente na falta de empenho ou dedicação das mulheres. Faço uma analogia com a taxa de cesária,que é de 88% na rede privada, sendo que no início da gravidez 70% das mulheres desejam ter um parto normal. Será que ficaram com preguiça no meio do caminho?
Me parece que para incentivar a prática da amamentação o que nós mães precisamos não são mais cartazes que nos dizem o que devemos ou não devemos fazer para garantir o bem-estar nosso e dos nossos bebês. São orientações práticas sobre como amamentar com sucesso, um acompanhamento acessível por profissionais atualizados, um ambiente de trabalho com condições estruturais e legais que favorecem a amamentação prolongada e um senso de união entre nos mães que acolhe cada mulher com as suas condições e escolhas.
Porque amamentar é um ato de amor. E dar fórmula também.